“O Apelo da Floresta” é o nome que
escolhi para este blog, que deveria ter acompanhado a evolução do
projecto TimberBee desde o início.
Digo deveria ter acompanhado, porque
não acompanhou: em pouco mais de um ano TimberBee evoluiu de um
conceito, inocente e idealista, de uma empresa com fortes
preocupações sociais e ambientais, e um objectivo de fazer a
diferença, a uma pequena empresa que – não temos qualquer
problema em o assumir – constrói as melhores colmeias de Portugal.
(não deixa, no entanto, de ser uma
pequena empresa que luta para se afirmar e continuar a existir!)
E o blog nunca chegou a arrancar.
E nunca chegou a arrancar por uma única
razão: não houve tempo!
Não se tratou de falta de tempo para
colocar umas fotografias,ontem, ou um pequeno texto, hoje, não.
Um blog, tal como um livro, precisa de
ter um início, um texto forte, que marque e que guie o que se
acrescentará no futuro. E foi para este início que o tempo faltou.
Como faltou para muito mais.
Basicamente, desde que o projecto
TimberBee arrancou a sério, o tempo tem sido das coisas mais em
falta.
Fazer colmeias é um trabalho
laborioso, e tem sido imensas as horas que eu, o Carlos Costa (o
Carlos, mais do que ninguém) e a Sandra Pinto da Costa passámos na
oficina, a montar colmeias, quadros, telhados, estrados... E para ser
justo, há que mencionar as pessoas com quem trabalhamos, e que tem
dedicado muito do seu tempo a trabalhar para melhorar a vida das
abelhas e do apicultor: o Sr. Joaquim, a Fatinha, o Cristiano, a
Susana...
E não só temos feito colmeias, como
as temos experimentado, na oficina e no apiário, e desenvolvido, modelo após modelo, para melhor servirem as abelhas e o apicultor, respeitando uma especificação fundamental: teriam que ter a mais baixa pegada ecológica possível.
Algumas colmeias TimberBee, em Paredes
Ah, e há a criação da página – só
por si uma maratona insana! Muitas, mesmo muitas, foram as noites que
se arrastaram até às 2 da manhã. Muitas vezes comigo, em Paredes,
e com o Ricardo Marques, em Tomar, a decidir como deveria ficar está
página, ou aquela, ou que aplicação se adequava a determinada
necessidade. E, depois, toca a levantar às 7, pois ainda há uma
profissão como biólogo que nos paga as contas da casa, e que nos
obriga a levantar às 7. Acho que ainda estou a recuperar desses
tempos!
Por vezes, dou por mim a pensar no que
fui meter! Não só com o projecto TimberBee, mas também com o
movimento Paredes em Transição, de onde o projecto nasceu... isto
porque, uma das ideias de base que me levaram a envolver nestes
projectos foi melhorar a minha qualidade de vida, e ter mais tempo
para a família. E aconteceu precisamente o contrário.
Com uma profissão a tempo inteiro,
mais dois projectos desta envergadura, deixei de ter tempo para mim
próprio, e pouco tempo consigo inventar para estar com a família.
Por outro lado, muitas vezes o tempo
necessário para desempenhar uma tarefa é mutuamente exclusivo do
tempo necessário para desempenhar outra tarefa, e uma das
consequências é que, a nível do movimento Paredes em Transição,
tudo, ultimamente, se parece resumir a eventos e formações ligadas
às abelhas e à apicultura. A culpa é minha, claro.
E assim, naturalmente, o blog “O
Apelo da Floresta” continuou como estava: vazio. E havia tanto para contar!
A Sandra, serrando tábuas para futuras colmeias na Agrival, Feira Agrícola do Vale do Sousa, Penafiel, 2013
Foi preciso uma gripe como já não me
lembrava, que me prendeu em casa durante uma semana, para arranjar o
tempo necessário para mexer com ele (e sim, até a gripe teve a ver
com abelhas!) para que ganhasse o tempo para, finalmente, pôr O Apelo da Floresta a mexer! Caramba! :-)
Voltemos ao blog. A ideia de criar o “O
Apelo da Floresta” esteve sempre ligada a 2 objectivos:
- Contribuir para a partilha de conhecimentos ligado à floresta e à sustentabilidade (entre os quais se inclui a apicultura);
- Tentar contagiar outras pessoas, que pensam como nós, a tentar contribuir para recriarmos uma floresta verdadeiramente sustentável em Portugal, através de acções pessoais, e de uma actividade empresarial na área, pautada por sólidos princípios sociais e ambientais.
E foi destes dois objectivos que nasceu
o nome – O Apelo da Floresta, – que muitos devem, imediatamente, associar ao mais celebrado romance do escritor
americano Jack London, o narrador das aventuras da minha juventude
(The Call of the Wild, Jack London, 1903).
N'O Apelo da Floresta (era "O Apelo da
Selva", quando o li pela primeira vez), Buck, o possante cão do Juiz
Miller, é subtraído e levado para as florestas do Norte do Canadá,
para servir de cão de tiro, na corrida ao ouro do Yukon. Buck
termina o livro na companhia de uma alcateia, da qual se torna líder, vivendo intensamente a sua ligação à Natureza).
O Carlos, explorando a floresta sustentavelmente.
Como
um todo, a humanidade vai
escrevendo o seu próprio romance, e só os políticos e os que andam
distraídos acreditam que o epílogo ainda possa ser brilhante. Todos os
demais sabemos que o epílogo será tudo menos
brilhante. Se, como Buck, o cão do Juiz Miller, não escutarmos o
apelo da floresta - o chamamento da nossa ligação visceral com a Mãe
Natureza - e mudemos a narrativa do nosso romance comum, como terminaremos?
Visceral, provocador mas pouco positivo. Fiel a ti mano lobo. Eu acrescento o positivismo: VAI TUDO CORRER BEM. Depois de um choque vão todos cair em si e seguir o rumo que deve ter seguido. Aquele em que tu já segues de lanterna em punho a desbravar na escuridão!
ResponderEliminarTudo de bom.
Obrigado pelo comentário, gente da Transição Linda-a-Velha!
ResponderEliminarTalvez o texto devesse ser mais positivo, mas, provavelmente, ainda vamos ter que engolir muitos sapos até que se comece, verdadeiramente, a sentir uma inflexão neste rumo estapafúrdio que trilhamos. Cá estaremos para ajudar a passar a palavra, e a dar o exemplo do que uma nova atitude pode gerar!
Um abraço para os amigos de Linda-a-Velha!