quarta-feira, 23 de abril de 2014

Como produzir mel em cera virgem numa colmeia convencional

Todos sabemos que a cera que compramos vem, com um grau elevado de certeza, contaminada com acaricidas, herbicidas, fungicidas, insecticidas, antibióticos, e uma boa dose de parafina e um pingo de sebo de porco... esqueci alguma coisa?
E como a cera está caríssima, a tendência do apicultor ou do comerciante de cera é reciclá-la o mais possível. Provavelmente, em cada quilograma de cera que compramos existe uma boa percentagem de cera com muitos anos, que é, ciclicamente, reutilizada, e bem impregnada com resíduos de toda a espécie.
Acontece que a cera é um lípido que absorve e acumula, em perpetuidade, todos estes resíduos, e que, a cada nova reutilização, acumula ainda mais contaminantes.
Por esta razão, prefiro consumir mel de cera virgem que, em Portugal, é difícil de de encontrar. Ainda se pode encontrar algum mel de cortiço - muito pouco, e a um preço bem acima do mel convencional, e é assim que deve ser - mas, pessoalmente, prefiro trabalhar com as minhas colmeias.
E poder controlar a qualidade da cera é uma das razões principais pelas quais as colmeias Top Bar e Warré tanto me agradam.
Mas a nossa colmeia Lusitana também pode ser usada para produzir mel em cera virgem! Como fazer?


O meu interesse é usar de alça quadros novos, que nunca tiveram contacto com cera comercial. Como tal, não quero usar tiras de cera ou pingar cera na ranhura do quadro. Certo, podia fazê-lo com cera da Top Bar, mas o objectivo deste exercício é provar que podemos usar quadros virgens.

A minha técnica consistem em intercalar quadros virgens com quadros já preenchidos com mel. Neste caso, preparo a alça nova, com os espaços intercalados com quadros e sem, e vou retirando quadros preenchidos da alça na colmeia, que vou reposicionando na alça nova.
(E sim, devia ter colocado a alça sobre a prancheta ou o telhado, não fosse a rainha ter subido à alça!)


Os quadros virgens que saem da alça nova preenchem os espaços que foram evacuados na alça na colmeia.


A alça nova é colocada sobre a alça que já se encontrava sobre a colmeia - neste caso, não há necessidade de a colocar sob a alça que já se encontrava na colmeia. A técnica é bastante simples, não incomoda muito as abelhas, e pode ser continuada durante toda a época.


Quadro já preenchido, que já poderia ser recolhido e centrifugado.
Se pretendesse fazer mel escorrido - o que seria, ainda, melhor! - teria usado quadros sem arames.

E se pretendesse fazer mel em favo, teria usado os nossos quadros TimberBee especiais para mel em favo, que fizemos para o Lagar do Mel, no ano passado. Provavelmente ainda vou fazer alguns...

Idealmente, a cera no ninho também deve passar por um processo semelhante, até ser toda substituída por cera virgem. Ainda não foi o caso, mas lá chegaremos!







quarta-feira, 16 de abril de 2014

Levei cá uma destas tareias!!!

Como se mede um apicultor em Portugal? Pelo número de enxames? Pela quantidade de mel que produz? Pela quantidade de picadas que leva?
Em portugal, medimos os apicultores por tudo, menos pelo que realmente interessaria, que é o quanto cada apicultor contribui para a conservação das abelhas e dos ecossistemas que as suportam (e a nós, humanos!).
A ser medido pela quantidade de picadas num só dia, ou só na cara, ontem subi uns quantos lugares no ranking do apicultor português, ou, então, no ranking da teimosia e da estupidez. Seguramente, o meu record pessoal de picadas sofridas num só dia, ou só na cara, foi batido, e por larga margem. Cerca de 20 picadas na cara (a contar pelas abelhas feridas de morte - depois da picada - que encontrei no interior da máscara, quando a tirei) e acima de 50 picadas, no total.
E como é que isto aconteceu?
Ontem estive a ajudar um dos nossos alunos, com as suas abelhas - caixas Lusitanas, fortíssimas - e a minha máscara abriu-se um bocado. Havia trabalho para fazer (e não era pouco), eu sou teimoso (talvez um pouco estúpido, também ), e apetecia-me tudo menos parar e ir reparar o problema (eu disse que sou um pouco estúpido - talvez não seja pouco!). De modo que, apesar das picadas que se sucediam, era para andar para frente.
A outra explicação é que estou habituado a trabalhar com Top Bar, onde as abelhas raramente sentem vontade de picar...


Este foi o resultado. - picadas no sobrolho, lábio inferior, lábio superior, queixo, garganta, maçã de Adão, nuca, pulsos, braços, mãos, dedos... foi cá uma destas tareias!
Podia chatear-me com as abelhas? Não, elas estavam, apenas, a defender o enxame de um intruso. Nós é que estávamos a perturbar o seu trabalho, e a sua tranquilidade.
O nível de adrenalina foi intenso!
Dizem que a apitoxina, em pequenas doses, faz bem ao organismo - ao menos, isso! 
Apesar de tudo, acreditem, foi um dia muito agradável! Depois de ter passado 30 anos a pensar que era alérgico à picada de abelha, agora é altura de me vingar!
Um abraço a todos, e boas picadas! 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Colmeias Warré TimberBee em Acção

Mais um conjunto de imagens, recebido do telemóvel do Mestre Apicultor, Herr Harald Uwe Hafner. Neste caso, ilustra-se o desenvolvimento dos enxames instalados em colmeias Warré TimberBee.
O Harald ressalvou que as que apresentam 3 elementos foram divididas há 4 semanas.

 
Nesta imagem, a Warré da esquerda apresenta 5 elementos, e a da direita 3.
Curioso como o Harald já está a implementar uma experiência que havia mencionado que tencionava fazer, que é usar lusitanas sem ninho, usando, apenas, alças - à direita.


Mais uma Warré, entre Lusitanas. Penso que os dois elementos emalhetados, superiores, provêm de umas colmeias francesas que o Harald já tinha.

Uma das TimberBee mais recentes, com janela de observação.

As abelhas atarefadas na construção dos novos favos, no interior da Warré, visto através da janela de observação.

E uma vista geral do apiário, composto por Lusitanas e Warrés, com 2 Top Bar ao fundo.
Estou bastante curioso de seguir o desenvolvimento destes enxames.
Muito obrigados pelas imagens, Harald!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Prados para complemento da alimentação das abelhas

No Sábado passado (5 de Abril) tive a grande honra e o enorme prazer de poder apresentar uma palestra sobre as dificuldades do quotidianos das abelhas e sobre um possível futuro para a apicultura em Portugal no TEDx Penafiel. Foi muito bom! 
Na minha apresentação incluí uma das imagens que o meu amigo Francisco Jesus me enviou, e que partilho, abaixo. Mostra um prado de plantas amigas das abelhas que ele semeou junto a um dos seus apiários.
Este é um bom exemplo do que nós, apicultores poderíamos fazer, um pouco por todo o lado, para ajudar as nossas abelhas a encontrarem fontes para uma alimentação variada - quanto mais variado o prado, melhor.

O apiário do Francisco, algures, em Portugal.

Trevo da espécie Trifolium incarnatum e várias espécies de flores selvagens.

Vista geral do prado e do apiário.

E outra vista, com o rosmaninho...

Este prado, para além de proporcionar, às abelhas do Francisco, um complemento alimentar, também proporciona alimento para imensas espécies de insectos polinizadores selvagens.
Caros amigos, este é um exemplo a replicar por esse Portugal fora!